3) Provações Nos Fazem Mais Como Cristo
Agora vamos abrir em
Romanos 8:28-29 para uma terceira razão porque Deus permite as provações: “E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto [chamados com propósito – JND]; Porque os que dantes conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho”. O assunto que conduz a esses dois
versículos é que toda a criação “geme e está juntamente com dores de parto”
sob “a escravidão da
corrupção”, que veio sobre
nós por meio do pecado (vs. 21-22). Essa provação toca a todos nós de uma forma
ou outra. O apóstolo explica que, embora Deus não tenha trazido aqui a
“escravidão da corrupção”, mesmo assim Ele usa isso em Sua escola para nos
ensinar determinadas lições. Nesse caso, Ele a usa para nos moldar “à imagem
de Seu Filho”. Essa é outra
razão porque Deus permite as provações em nossa vida.
Cristo já não está aqui
neste mundo, mas Deus queria que Ele fosse visto em Seu povo e por meio do Seu povo.
Ele está atualmente trabalhando para formar nosso espírito e para moldar nosso
caráter à imagem de Seu Filho, e usa as provações e tribulações para alcançar
isso. Note, não diz aqui que tudo o que nos acontece é bom – porque algumas
coisas são inegavelmente ruins – mas que essas coisas “contribuem juntamente
para o bem”. Isso significa
que Deus permitirá uma provação em nossa vida porque é para nosso bem
derradeiro. A fé pode dizer, “algo de bom vai resultar disso!”
Frequentemente se diz que
Deus tem mais para fazer em nós do que por meio de nós. Queremos
fazer coisas no serviço para o Senhor, mas Ele está mais interessado em nos
fazer mais como Seu Filho. Eu não estou dizendo que Ele não quer nos usar no
serviço, mas um objetivo mais elevado para Deus é a conformidade moral de Seu povo
a Seu Filho. Deus, na verdade, vai encher o céu com um povo redimido, que é tal
como Seu Filho!
Poderíamos perguntar:
como isso acontece exatamente? Bem, Romanos 12:2 diz que essa transformação à
conformidade do Filho de Deus é um processo que ocorre de dentro para fora. Começa
em nossa mente e produz resultados em nossa vida. Diz: “E não vos conformeis
com este mundo, mas transformai-vos
pela renovação do vosso entendimento [da vossa mente – ARA]”. O que isso
significa é que, pensar correto conduz às ações corretas, dando assim forma a
nosso caráter.
Paulo mostra que uma
coisa que definitivamente impede o processo da transformação é o “mundo”, e insiste, portanto, na necessidade
da separação deste. Pensar de maneira mundana é colocar o “eu” em primeiro
lugar, mas pensar segundo Deus é colocar Cristo em primeiro lugar. Quanto mais
saturarmos nossa mente com a Palavra de Deus, mais pensaremos como Deus pensa. Veremos
coisas como Ele as vê. Amaremos o que Ele ama e odiaremos o que Ele odeia, etc.
Isso se manifestará em nossa vida. Haverá uma mudança moral em nossas palavras
e ações. Mais e mais começaremos a nos assemelhar a Cristo em nossas maneiras. “Renovar”
nossa mente refere-se à necessidade de reajustar nossos pensamentos. C. H.
Brown dizia que poderíamos ter que fazer isso 50 vezes em um dia! Nossas mentes
mantêm-se indo após coisas mundanas e carnais, e necessitam ser reajustadas
repetidas vezes. H. E. Hayhoe costumava dizer, “preste atenção ao que você
pensa, e deixe que isso seja Cristo”.
Deus trabalha não somente
pelo Espírito internamente, mas também usa provações vindas de fora. Isaías fala
do remanescente de Israel estando “aflito, arrojado com a tormenta e
desconsolado” (ARA), mas
assegurou-lhes também que por meio disso o Senhor estava formando Sua beleza
neles. “Eis que eu porei as tuas pedras com todo o ornamento e te fundarei
sobre safiras. E as tuas janelas [parapeitos]
farei cristalinas e as tuas portas de rubis, e todos os teus termos, de pedras
aprazíveis [preciosas]” (Is 54:11-12). Quando a nação
de Israel for restaurada ao Senhor, será um produto maravilhoso da habilidade
divina. Naquele dia, a oração de Moisés será respondida: “seja sobre nós a
formosura do Senhor nosso Deus” (Sl 90:17 – ARF). A glória do Senhor
irradiará sobre eles (Is 60:1). Mas o caminho desse divino final será por meio do
sofrimento, que no caso deles será a provação da Grande Tribulação. À medida
que lemos as epístolas vemos o caráter de Cristo emanando dos santos. E isso é
bonito. Deus, pelo Espírito, escreve Cristo nas tábuas de carne de nosso
coração, e isso floresce em nossa vida, em nosso andar e em nossas
maneiras (2 Co 3:3). Foi o que o apóstolo expôs quando disse: “Cristo em
vós, esperança da glória” (Cl
1:27). Muito da beleza moral nos santos é resultado das provações pelas quais
passaram. Lembrem-se, é a flor esmagada que emite a fragrância!
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As seguintes coisas são
algumas dessas características morais de Cristo que Deus está atualmente produzindo
em Seu povo por meio da provação.
∎ As Entranhas [Compaixões] de Cristo – O apóstolo Paulo disse aos santos de Filipos que tinha
saudades de todos eles em “entranhável
afeição [compaixão] de Jesus Cristo” (Fp 1:8). Aqui vemos
a compaixão de Cristo ser exposta em Paulo. Que característica bonita é! Notem,
é “a compaixão de Jesus Cristo”.
É o mesmo caráter da compaixão que o Senhor Jesus teve em Sua vida e ministério
(Mc 6:34), reproduzido em um dos Seus.
Os filipenses expressaram compaixão e
misericórdia a favor de Paulo enviando uma comunhão (oferta) pela mão de
Epafrodito (Fp 2:1, 4:18). Por estar preso e não poder vê-los, escreveu uma
carta de reconhecimento da comunhão enviada. Essa característica maravilhosa
era o resultado do sofrimento de Paulo na provação. O tempo aqui não permite lermos
as passagens que mostram algo do que ele passou na senda da fé e testemunho. Por
meio daquelas coisas Deus produziu algo bom em Paulo – as compaixões de Cristo.
Antes de sua conversão, ele não era reconhecido como tendo compaixão. Impiedosamente
levou os Cristãos para ser espancados e entregues à prisão (At 8:1, 9:1,
22:4-5). Na escola de Deus transformou-se em um vaso apto para o uso do Mestre,
cheio com as compaixões de Cristo.
Deus está procurando produzir
as compaixões de Cristo em nós também. Podemos naturalmente ser caracterizados
pela dureza e pela indiferença aos problemas dos outros, mas depois que Deus
trabalha em nós, seremos marcados pelas compaixões de Cristo. Recentemente eu
ouvi alguém dizer a uma criança que foi ferida, “aguente firme aí porque de
mim, você não terá nenhuma compaixão”! Quando eu ouvi isso, disse para mim
mesmo, “Depois que você passar pela escola de Deus, você terá”! Ele pode nos colocar
em uma circunstância onde necessitemos da demonstração de compaixão, e não
teremos nenhuma. Talvez, então, vamos ser exercitados a respeito de demonstrar
compaixão aos outros. Como já falamos, as provações têm um jeito de nos
abrandar (“Mas Deus fez meu coração
brando” Jó 23:16 – JND). Deus nos fará como Cristo que Se compadece dos
Seus enquanto passam por problemas (Hb 4:15).
∎ A
Mansidão e a Benignidade de Cristo – Intimamente conectadas com as compaixões de Cristo estão “a mansidão e a benignidade de Cristo” (2
Co 10:1). Nos capítulos 10 a 13 da segunda epístola de Paulo aos coríntios, ele
defende seu apostolado. Esse era um assunto delicado, e poderia facilmente parecer
vanglória e promoção de si mesmo. O problema era que havia determinados
adversários que tinham afetado o pensamento de alguns dos coríntios, tentando
afastá-los do apóstolo. Paulo sabia que se não tratasse esse assunto
corretamente poderia perdê-los completamente a partir do momento em que
deixariam de ouvir o apóstolo. Sabiamente ele deixou para tratar disso por
último, por causa de sua natureza delicada, e o abordou com “a mansidão e benignidade de Cristo”.
Em outras palavras, procurou tratar do assunto como o próprio Senhor Jesus
faria.
Haverá ocasiões quando
você terá que falar com alguém sobre algum assunto que, se não for tratado
corretamente, poderá dar lugar a alguma ofensa pessoal – a pessoa poderá facilmente
ficar ofendida, e talvez, deixar de se reunir. Será nessa situação que
precisaremos especialmente da “mansidão e benignidade de Cristo”. Temos que falar a verdade, mas
devemos fazê-lo em amor.
Talvez sejamos um pouco
insensíveis aos sentimentos dos outros, e nos falte tato e graça. Alguns de nós
pode ser um pouco como “um touro numa loja de porcelana”, mas Deus tem Suas
maneiras de formar em nós as características de Cristo. Ele pode permitir que
sintamos o que é alguém vir até nós de maneira arrogante que seja ofensiva,
para nos exercitar sobre como tratamos os outros. Precisar interagir
diariamente com alguém assim pode ser uma verdadeira provação, mas Deus pode
ter colocado tal pessoa em nossa vida para nos exercitar. Apesar de tudo, “Como
na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem” (Pv
27:19). Aprendemos o que está em nossos corações vendo isso em alguma outra
pessoa é uma experiência humilhante.
∎ A Obediência de Cristo –
Mais adiante, no mesmo capítulo 10 de 2 Coríntios, Paulo fala às almas para
ajudá-las a se libertar das ideias e das doutrinas errôneas que foram rigidamente instaladas em suas mentes.
Chama essas ideias errôneas que se
instalam na mente de “fortalezas”.
Seu alvo era destruir aquelas “fortalezas”
e trazer o pensamento dos irmãos sob a autoridade da verdade de Deus no
espírito da própria submissão de Cristo a Deus. Ele disse: “levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co
10:5). Observe outra vez, essa é “a
obediência de Cristo”, não a obediência a Cristo – que
é um pensamento completamente diferente. É o próprio caráter da obediência que
Cristo mostrou em Sua vida. Sua obediência não era uma coisa legalista, pois
obedeceu porque amou Seu Pai e quis agradá-Lo (Jo 8:29, 14:31). Pedro também
fala desse mesmo caráter de obediência (1 Pe 1:2).
O ponto aqui é que Deus quer que
obedeçamos do mesmo modo como Cristo obedeceu. Não quer que obedeçamos porque
somos obrigados, mas porque queremos. As provações têm uma maneira de criar esse
desejo em nós.
∎ A Fé de Cristo –
em Gálatas 2:20 diz: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se
entregou a Si mesmo por mim”. Paulo procurou viver “pela fé do
Filho de Deus” – isto é, pelo mesmo tipo de certeza e confiança com que o
Senhor Jesus vivia em Sua vida dependente. O ponto aqui não é tanto que devemos
viver para Cristo, mas que devemos viver Cristo. O Senhor foi
caracterizado por uma confiança simples em Deus. Esse mesmo caráter de Cristo
deve estar em nós.
Para purificar e fortalecer nossa fé, Deus
ordena provações para tocar nossa vida, por meio das quais aprendemos a confiar
n’Ele. Em 2 Tessalonicenses 1:3-4, Paulo fala da fé que tinham e do crescimento
dela “sobremaneira” e então acrescenta: “… nos gloriamos de vós nas
igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas
perseguições e nas tribulações que suportais”. A fé deles cresceu ao serem provados pelas “perseguições e
tribulações”. As
provações nos ensinam a desconfiar de nós mesmos e a confiar n’Ele (Sl 16:1).
∎ A Paciência de Cristo – em 2 Tessalonicenses 3:5 o apóstolo diz:
“Ora, o Senhor encaminhe o vosso coração na caridade de Deus e na paciência
de Cristo”. Aqui temos
outra característica de Cristo reproduzida nos santos – “a paciência de Cristo”. Paulo desejou que a espera dos
santos pela vinda do Senhor fosse paciente. O Senhor quer que O esperemos como
Ele mesmo espera no alto. Em glória Ele espera Seu Pai dizer-Lhe que é hora de
vir para levar Sua noiva. Então descerá com um brado e com voz de Arcanjo e nos
convocará. A mesma paciência que Ele tem no alto em glória deve ser vista em
nós enquanto O esperamos aqui.
Há um grande perigo de
abandonarmos a esperança da vinda do Senhor, o que será evidente naqueles que o
fizerem. Dirão, essencialmente: “Meu Senhor tarda em vir” (Mt 24:48-49 –
IBB). Note que essa não é a negação da Sua vinda, mas a queixa de Seu atraso.
Se a iminência disso perder seu fulgor em nossos corações, nossa vida o
mostrará. Em segundo lugar, “começarão a espancar” seus “conservos”, isto é, nos tornaremos
ásperos e críticos com aqueles que estão fazendo o trabalho do Senhor. Terceiro,
eles “comerão e beberão com os bêbados”, isso significa que haverá uma ruptura dos princípios da
separação do mundo.
As experiências difíceis pelas
quais passamos neste mundo podem não ser a razão mais elevada porque queremos
que o Senhor venha, mas Deus as usa para direcionar nosso coração para o céu. Por
meio dessas experiências aprendemos a esperar por Ele. Tiago diz: “Sede,
pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor” (Tg 5:7). Tiago também diz que Deus usa provações e tribulações
para nos ensinar essa paciência: “Meus irmãos, tende grande gozo quando
cairdes em várias tentações Sabendo que a prova da vossa fé obra a paciência [perseverança – JND]. Tenha, porém,
a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem
faltar em coisa alguma” (Tg 1:2-4).
O resultado das condutas de Deus conosco é que seremos
transformados lenta, mas seguramente “conformes
à imagem de Seu Filho”. No final, Sua “beleza”
será sobre nós! (Sl 90:17 – JND)
Amém, eu creio.
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